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24 de Abril de 2024

Parto normal ou cesárea?

O Brasil é o país do mundo que mais realiza cesarianas. Entenda as novas medidas do governo para reverter o quadro e porque o parto normal é mais indicado

Publicado por Maikon Eugenio
há 9 anos

Parto normal ou cesrea

A Agência Nacional de Saúde divulgou na última semana as novas regras para a realização de partos no Brasil. O objetivo da ANS e do Ministério da Saúde é estimular a realização dos partos normais. Segundo Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o país onde mais se realizam cesáreas no mundo. As taxas chegam a 84% no sistema privado e a 40% no SUS - o recomendado pela OMS é 15%. As novas regras geraram opiniões divergentes entre especialistas. Entenda melhor as recomendações e seus objetivos:

O que o governo quer com as novas medidas?

Reduzir o alto número de cesárias no Brasil, hoje o País onde mais se realizam cesarianas em todo o mundo. Segundo dados do Ministério da Saúde, na rede privada 84% dos partos são cesarianas. No SUS, o índice chega a 40%. A OMS recomenda 15%.

E como a nova resolução da ANS pode ajudar isso na prática?

O principal objetivo do governo é reduzir o número de cesárias. Para isso, a principal medida é reforçar a importância dos partogramas, documentos que detalham como foi o parto. A partir dele é possível saber quais eventuais complicações justificariam (ou não) as decisões tomadas pela equipe médica e obstétrica, e se as cesarianas efetuadas seriam de fato necessárias. Hoje o partograma é obrigatório no SUS, mas não é tratado com o rigor necessário pelos planos de saúde. A partir de agora, as operadoras dos planos de saúde só poderão realizar o pagamento dos procedimentos mediante a apresentação do partograma. Com a fiscalização e o fortalecimento de sua obrigatoriedade, os profissionais de saúde terão sempre que esperar a gestante entrar em trabalho de parto, desestimulando os nascimentos agendados - o que não é recomendável pela OMS.

Haverá ainda a divulgação do percentual de cesarianas por hospital, por médico e por operadora. O descumprimento da regra acarretará em multa de R$ 25 mil reais para a operadora do convênio. Esta medida deixará mais explícito o excesso de intervenções no Brasil, e dará mais elementos às gestantes que desejem um parto normal pelo plano de saúde.

Mas o partograma resolverá tudo?

Para a obstetra Cláudia de Azevedo, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, outras mudanças são necessárias para se garantir a redução do número de cesáreas no Brasil. Sem um preenchimento correto, por exemplo, o documento não ajuda a reduzir o número de intervenções desnecessárias. “O partograma pode ser burlado e preenchido retroativamente, no pós-parto. Ou seja, se não houver uma regulação ou auditoria séria, o documento se torna apenas mais um documento burocrático do prontuário da paciente", argumenta. A medida do governo coloca em debate o modus operandi dos planos de saúde e abre caminho para uma melhor fiscalização e a consequente redução do número de cirurgias.

O que mais será feito?

Segundo a ANS e o Ministério da Saúde, outras medidas virão após uma consulta à sociedade civil para angariar mais sugestões de como reduzir o número de cirurgias no Brasil.

Qual o problema de se fazer uma cesárea?

A cesariana deveria ser uma cirurgia de emergência, utilizada apenas quando complicações impedissem o parto normal.

Então o parto normal é mais seguro?

Sim. Segundo um estudo da American Journal of Obstetrics and Ginecology, o número de óbitos maternos é 10 vezes maior em cesarianas que em partos normais. No caso dos bebês, a mortalidade infantil para nascidos em cesáreas é 11 vezes maior quando comparada aos nascidos em partos normais. Isso acontece porque a cesárea é uma intervenção cirúrgica e, como tal, envolve riscos. Além do mais, estudos apontam que bebês nascidos de parto normal têm menor propensão a doenças respiratórias, autoimunes e até obesidade.

É verdade que o agendamento da cesariana estimula partos prematuros?

Sim. É difícil calcular a data exata da concepção, e as cirurgias costumam ser agendadas para o mais breve possível, assim que a gravidez chega ao termo (na 38ª semana, quando o bebê está completamente formado). A imprecisão natural da data da concepção aliada à pressa em se fazer a cirurgia acaba fazendo com que a cesárea seja um dos principais causadores de partos prematuros no Brasil.

Quando um médico deve optar por uma cesariana?

A cesariana deve ser utilizada quando todos os meios para promover um parto normal forem esgotados. Isso acontece em gravidezes de risco ou em mulheres com algum problema prévio de saúde. Por exemplo: placenta prévia verdadeira (quando a placenta impede a passagem do bebê pelo canal do parto), ruptura uterina e descolamento precoce da placenta. Tais situações, contudo, são raras.

Fazer ou não uma cesárea não é um direito de escolha da mulher?

Segundo a pesquisa Nascer no Brasil, divulgada em setembro de 2014 e coordenada pela ENSP/Fiocruz, 28% das brasileiras desejam ter uma cesariana já no início de sua gestação. Esse resultado, contudo, merece uma ponderação. Os planos de saúde e os obstetras a eles vinculados vêm sistematicamente estimulando a fazer cesarianas. Criou-se uma" cultura da cesárea "no Brasil. Um dos efeitos desta iniciativa governamental é começar a equilibrar essa percepção, mas tal trabalho pode levar décadas.

Alguns argumentos utilizados pelos médicos para realizar cesarianas são “bebê sentado”, baixa dilatação, idade avançada ou “cordão umbilical enrolado no pescoço”. São justificativas verdadeiras?

Nenhuma dessas situações indica obrigatoriamente a necessidade de uma cesariana, depende de cada caso. Muitos bebês têm o cordão enrolado no pescoço durante o nascimento e isso não provoca queda de batimentos cardíacos ou qualquer outro problema para o bebê. Uma situação real de bebê" sentado "é mais rara, e depende de mais apuro para realizar um parto normal, pois exige uma manobra específica para que o bebê possa nascer sem a cirurgia. Fazer uma cesárea alegando baixa dilatação normalmente indica um trabalho de parto apressado, no qual a intervenção jurídica veio antes da hora. A idade avançada também não é um indicativo de debilidade da mulher, se a gestação ocorreu de maneira saudável, a idade não é impeditivo para o parto normal.

A formação dos profissionais está voltada para a cesariana?

Não. As escolas pregam o modelo do parto normal e ensinam que a cesariana é apenas para emergências. O problema é no diaadia dos hospitais. Trabalhos de parto são longos, e a cesárea dura cerca de duas horas. E, para as seguradoras de saúde, quanto mais previsível e rápido for o parto, maior o lucro.

O Brasil tem condições de infraestrutura e profissionais suficientes para essas adaptações?

Sim. Um dos entraves ligados ao convênio médico é o atrelamento do obstetra a outros profissionais, como o anestesista. Este é um dos argumentos para o agendamento. Contudo, todos os procedimentos podem ser realizados por plantonistas presentes do hospital. Não é necessário que o parto seja realizado pelo mesmo médico que realizou o pré-natal, por exemplo.

O parto natural, em que as mulheres decidem dar à luz em casa, está ganhando força no Brasil e no mundo. Ele é seguro?

Ele é seguro quando a gestante está em perfeitas condições de saúde e foi assistida por toda a gravidez por uma equipe profissionais capacitados que assegurem suas condições de ter um bebê dessa forma. Ainda assim é necessária a montagem de um plano de emergência caso a gestante precise ser levada para um hospital para realizar alguma intervenção.

Como são os partos fora do Brasil?

Na maioria dos países da Europa e nos Estados Unidos, por exemplo, o parto normal é a regra, e a cesariana é considerada um recurso de emergência, tanto pelos médicos como pela população e pela mídia. E o parto é quase sempre feito na rede pública, pela equipe de plantão que estiver no hospital no momento em que a gestante der entrada.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/saúde/parto-normal-7111.html?utm_content=bufferf4403&utm_medium=s...

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8 Comentários

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Todo mundo sabe que a cesárea é bem mais cara para o SUS e é esse o verdadeiro motivo para tantas mudanças.
Conheci mulheres que tiveram complicações com seus bebês e até mesmo óbito por que foi deixada até o último instante para fazer o parto normal.
Comigo (tinha plano de saúde, graças a Deus) fiz cesárea porque meu bebê fez cocô na bolsa e o obstetra mandou de emergência para sala de cirurgia. Tudo ocorreu muito bem, tanto comigo, quanto com minha filha. O mesmo aconteceu com uma amiga, infelizmente ela não tinha plano de saúde e deixaram até o fim e induziram o parto normal. O bebê ficou 3 meses na UTI porque aspirou mecônio (cocô do bebê) e depois veio a óbito. São muitas as histórias horrendas que se houve por aí. Como sempre, o dinheiro está acima das vidas tanto das mães quanto dos bebês. continuar lendo

Quando enfermeira, assisti a um único parto normal, onde a mãe sofreu demasiadamente, quase morreu, e o bebê veio a óbito na hora em que estava sendo puxado, pela cabeça, pelo médico. Deixei imediatamente a profissão e jurei para mim mesma que jamais teria um parto normal. E, se, por questões de economia, uma mulher for obrigada a se submeter a tamanha dor e à situação de indescritível constrangimento, que sejam tomadas quaisquer outras medidas, pelas partes lesadas, para que as parturientes tenham o direito de escolha.
Os salafrários machistas deveriam parir um filho para saber o que uma mulher passa. Eu acho que, no Brasil, as autoridades competentes procuram economizar em coisas que não deveriam, como as que envolvem a vida e a saúde das pessoas para mais sobrar para os políticos gastarem.
Outro dia, vi uma mulher em um hospital, internada pelo SUS, aguardando parto normal. Gritou até acabar a voz, passou a emitir uns chiadinhos até se calar de vez. Depois não ouvi choro de bebê nem nada, só vi os maqueiros levando um corpo envolto em lençóis para o necrotério.
Tive minhas duas filhas, há 30 anos, em cesárias, pagas particular. Não tive problema algum, muito pelo contrário, não foi rompido o meu períneo, nem fiquei com queda de bexiga.
Não permitirei que minhas filhas tenham filhos por meio de parto normal, e, quero ver se há no mundo alguém ou alguma medida de governo que me obrigue a mudar os meus conceitos! continuar lendo

Acredito que com essa medida irá aumentar o índice de mortalidade de gestantes e seus bebes, somente as mães que já passaram por uma situação difícil como essa de depender de alguém (médico não especializado e pressionado a realizar partos normais) constatar se realmente há a necessidade de realização de cesariana sabe como é difícil, o Brasil precisa primeiramente melhorar o atendimento na área da saúde para depois impor medidas, acredito também que nos casos em que se pode pagar mesmo q seja em parte como ocorre com os convênios, trata-se de um direito de escolha exclusivo da gestante, afinal o sofrimento é único dela e nenhuma mãe escolheria colocar a sua vida e de seu filho em risco, essa medida foi adotada visando a diminuição dos custos já que pra eles é muito mais vantajoso um parto normal, e as mães com os bebes que sofram até a última hora, isso sim é por em risco a vida deles, também se morrerem fazer oquê não são suas familiares mesmo, afinal, os governantes não dependem disso. continuar lendo

"Não é necessário que o parto seja realizado pelo mesmo médico que realizou o pré-natal, por exemplo."

Esta é a realidade apenas de quem dá a luz pelo SUS e não pode fazer a opção e pode ter certeza, a maior parte dessas mulheres vai para o parto com medo. A mulher escolhe seu obstetra considerando diversos fatores, investe num plano de saúde com bastante antecedência já que existe um prazo de 300 dias de carência para parto. A relação de confiança com o obstetra muitas vezes é quebrada durante a gestação fazendo com que a mulher busque outro, portanto, considerando a baixa confiança na qualificação médica dos obstetras que são desconhecidos da gestante, dificilmente ela se sentirá segura com um plantonista que ela nunca viu na vida e nem conhece suas qualificações. Os planos não são mais baratos para homens, mulheres fora da idade fértil ou com histerectomia, portanto, esperar que a beneficiária abra mão de ter seu parto (que é a maior carência de todas) com o obstetra do pré natal é quase um abuso. "Necessário" pode não ser, mas quem quer abrir mão?
A realidade é que quem pode pagar, nem usa obstetra do plano. Muitos dos obstetras credenciados já estão retirando seu credenciamento como obstetra ficando apenas como ginecologista em função dos valores pagos que não compensam e essa burocratização do parto tende a aumentar esse movimento. Outra realidade é que poucos ainda fazem parto, seja lá por qual via for, sem cobrar um valor "por fora" além do que receberão das operadoras e os valores são bem maiores para um parto normal.

"O Brasil tem condições de infraestrutura e profissionais suficientes para essas adaptações?
Sim."

Isso não é uma realidade! Ainda que de uma hora para outra todas as mulheres resolvessem confiar seus partos aos plantonistas, um trabalho de parto natural, sem indução, pode durar muitas horas e não existem leitos suficientes nas maternidades para isso. Mesmo com a maior parte dos partos feitos cirurgicamente já está difícil conseguir vaga na maternidade, imagina quando os partos normais forem a maioria? Quem respondeu isso nunca viu a peregrinação de uma gestante em trabalho de parto. E olha que a minha referência é de quem mora numa capital do sudeste, imagina em outras cidades.

Outra coisa que não estão considerando na resolução é o uso indiscriminado de ocitocina para a indução do trabalho de parto e/ou aceleração deste, sem sequer informar a gestante. Com as contrações da ocitocina, poucas mulheres aguentam as dores sem analgesia, então neste caso, deveriam ser chamados simplesmente de partos vaginais e não de partos normais, pois não tem nada de normal em receber doses de medicamento "na marra", ser anestesiada e ainda sofrer uma episiotomia, como ainda ocorre na maioria dos partos vaginais.

Se a ideia é evitar partos prematuros, não adianta nada o parto deixar de ser cirúrgico para ser vaginal se a indução também anda sendo agendada assim como as cesarianas.

Se é para termos mais humanidade e mais saúde no processo de nascimento, o foco maior deveria ser no combate à violência obstétrica, que é um mal velado que ocorre em maternidades públicas e particulares todos os dias.

Infelizmente, acho que quem redigiu a RN nunca utilizou ou conhece alguém que tenha utilizado somente os recursos de seu plano de saúde para parir. De nada vai adiantar ter plano de saúde se ficar cada vez mais raro encontrar um obstetra que faça o parto pelo plano, ou seja, bom para as operadoras que vão deixar de gastar com os partos sem tornar os planos mais baratos em consequência disso. continuar lendo